Eu daria play nessa antes de começar a ler se fosse vocês.
Desde que eu me lembro - ou mesmo antes disso, se eu acreditar na minha mãe - eu fui uma criaturinha da noite. A criança que circulava acesa e mortalmente entediada pelas festas dos adultos, incapaz de dormir no quarto onde todas as outras crianças tinham sido acumuladas. Acordada vendo o céu ficar azul em festas do pijama enquanto as outras meninas dormiam emboladas e babando nos colchões amontoados no chão. Adolescente, minha mãe me mandava para a cama cedo, então eu deslizava silenciosa até a sala e passava a madrugada fumando na janela e vendo clipes aleatórios na TV.
Eu sempre achei pegar no sono algo fugitivo, uma virada que eu só consigo nas condições ideais de escuro e silêncio. Manter o sono é impossível. Qualquer luz, som, movimento, respiro, imagem indesejada, língua misturada de sonho me faz querer emergir. Eu durmo como se o sono fosse um lençol muito fino, muito transparente, como se o tempo todo eu pudesse ver o lado de lá. Com o tempo eu aprendi a me manter ali, mas antes eu me arrancava desse limbo e vagava acordada pela casa, irritada com o desperdício de horas.
Isso até eu descobrir que eu não precisava passar essas horas em casa.