Eu li Conversa Entre Amigos pela primeira vez em 2019. Era primavera, eu estava morando em Los Angeles e me sentia ao mesmo tempo muito sozinha e muito livre. Eu trocava mensagens em horários incomuns com outras pessoas longe de casa e vagava por cafés, museus e cinemas experimentando essa coisa inédita na minha vida adulta que eram meus fins de semana serem inteiros meus, só meus, meus de um jeito solitário e um pouco mágico.
Eu me lembro especificamente de sentar no café perto da minha casa, o único lugar da cidade que me dava um cinzeiro porque o dono era francês, e ler enquanto tomava um capuccino e grifava passagens sobre a onda muito específica e deliciosa que mensagens de texto podem causar. Eu me lembro também de ficar contemplando a capa do livro enquanto tomava um milkshake depois de uma sessão de Lost in Translation no cinema do Tarantino me sentindo o maior clichê da mulher millenial que existe e então concluindo que no fundo era sobre essa exata sensação que eu ia acabar escrevendo.
A sensação de falta de sentido, a solidão específica da minha mobilidade, mas também esses laços que nossa geração é jovem suficiente para ter inaugurado, mas velha suficiente para ainda se surpreender. Quando eu li Conversa Entre Amigos pela primeira vez, o que me pegou foi que a Sally Rooney dava materialidade e dignidade a relações que a literatura não havia considerado até então, especialmente os relacionamentos que não tinham forma, não poderiam ter forma, que existiam apenas no desejo amorfo de duas pessoas.
Essa sensação ficou comigo desde então e eu penso com muita frequência em como a história entre o Nick e a Frances não ser uma história de amor no sentido tradicional (em que um relacionamento é a única validação possível de sentimento) ter me autorizado a escrever sobre os temas que eu queria escrever e então, nesse ano, eu peguei o livro de novo. Em parte por projetos literários, mas em parte porque eu queria que alguém me falasse de sentimentos e desejos amorfos, que alguém me validasse vontades que não vão para lugar nenhum.