O primeiro livro que eu li da Ali Smith, Suíte em Quatro Movimentos, me deu uma sensação que é rara e uma das minhas preferidas na literatura: uma estranheza que eu ainda não sabia desvendar, mas que me dizia haver algo ali. Eu não conseguia pegar o que ela estava experimentando, mas identificava o experimento, o teste dos limites e das formas, ainda que eu não soubesse qual resultado deveria estar procurando.
Eu não sei por que minha escolha foi seguir dali para a série das estações, mas Outono me deu a mesma sensação de que aquilo ia para algum lugar, eu só não sabia onde. Agora, eu estou na página 170 de 320 de Inverno e ainda não sei para onde vamos, mas enxergo marcos do caminho.
O livro começa com uma mulher idosa que passou a ver uma cabeça flutuante de criança que a acompanha para todos os lados e que, alguns dias antes do natal, ouve os sinos da igreja baterem meia noite doze vezes. Seu filho termina com a namorada e contrata uma garota no ponto de ônibus para se passar por ela. A irmã radical dessa idosa reaparece do nada. É inverno, os dias são curtos e essas pessoas estão em uma casa na Cornuália onde imagino que o frio seja brutal. E é um pouco isso.