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Maquiagem e figurino

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Um ensaio sobre roupas e minha relação com elas

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Isadora Sinay
jul 16, 2025
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Maquiagem e figurino
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Quando eu tinha seis anos, quase sete, eu fui levada pela minha mãe à Galeries Lafayette para comprar uma boneca. Não era uma boneca qualquer e esse presente não era um pedido meu, eu gostava de Barbies na época, não de bonecas maiores e eu não sabia que uma boneca francesa era diferente das outras. Eu não sabia que aquilo era toda uma coisa, mas eu soube quando cheguei lá.

Naquele mês de julho, eu e centenas de meninas francesas prestes a começar a primeira série entramos em um andar específico de uma loja de departamentos muito antiga que tinha sido todo preparado para nós e escolhemos bonecas que se pareciam com a gente. Uma Corolle, embora fosse uma boneca grande, não era um bebê, mas uma menininha de sete anos e ela não existia para ser cuidada, mas para ser sua amiga.

A minha tinha cabelos loiros, olhos azuis, franja e um uniforme de écolière que incluía um casaco azul marinho muito parecido com meu próprio casaco de inverno. Ao longo dos três anos seguintes, ela foi carregada para toda parte e adquiriu um guarda-roupa impecável: vestidinhos de alça listrados para o verão, um maiô com touca combinando para ir à praia, até óculos escuros. Eu não sei o que foi feito dessas roupas, mas a boneca, em seu casaquinho azul-marinho, eu acho que ainda está sentada em uma prateleira do meu quarto de adolescente.

Eu era pequena e, no fim das contas, minha boneca sabia mais do que eu. Eu falava com ela, ela comigo. Tinha uma cara de celuloide com cabelos de celuloide e olhos de celuloide. Usava um vestidinho azul que minha mãe costurara num raro momento feliz e era linda. Já a boneca de Lila tinha um corpo de pano amarelado, cheio de serragem e me parecia feia a suja. As duas se espreitavam, se mediam, estavam prontas a fugir de nossos braços se viesse um temporal, se trovejasse, se alguém maior e mais forte e de dentes afiados as quisesse agarrar.

A Amiga Genial, Elena Ferrante

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