Melhores Leituras de 2024 e limpeza da casa
A primeira newsletter do ano, assim bem primeira newsletter do ano
Bem vindos a primeira newsletter do ano! Primeiro eu quero começar dizendo que nunca foi meu plano dar essa pausa que rolou. Quando eu entrei de férias do meu emprego CLT (RIP, mas não quero falar disso) eu tinha planejado que dezembro e janeiro seriam meses de escrita, na newsletter e em outros projetos. Acontece que rolaram umas reviravoltas (ver: RIP meu emprego CLT) e eu precisei desse tempo para me recompor, reorganizar e enfim, agora estamos aqui,
Estamos aqui nesse ano do qual eu espero muita coisa, mas desse primeiro semestre eu espero escrever, traduzir, pesquisar e dar cursos que vêm fermentando na minha cabeça há muito tempo. Vai ser bom, vai ser legal, vocês vão cansar de mim na internet, poreeeem, eu não sou uma máquina. Embora as vezes pareça que eu sou um robô incansável de takes a respeito de ser mulher no mundo, eu preciso de tempo e espaço mental para organizar algumas coisas e se toda minha energia de escrita entra aqui, sobra pouco para outros lugares e portanto eu vou voltar ao cronograma de uma newsletter por semana.
Isso quer dizer que ficaremos assim:
1ª semana: um ensaio pessoal, aquele texto longo e aleatório sobre o que quer que eu esteja obcecada no momento - aberto para todo mundo
2ª e 3ª semanas: uma crítica de filme e uma resenha de livro. Isso aqui é o principal motivo para eu diminuir a frequência, porque eu sou capaz de analisar dois livros ou filmes por semana, mas não sou capaz de traçar as conexões, pensá-los de forma mais ampla, inserir em um contexto cultural maior, etc, etc, que eu acho que é a graça dos textos daqui. Daí eu vou alternar, em um mês o livro é aberto pra todo mundo e o filme só pros pagos, no outro o filme é pra todo mundo e o livro pros pagos, e por aí vai.
Já anuncio que esse mês eu vou escrever sobre Babygirl porque como não??? E vai só pros patrocinadores, então fiquem espertos aí.
4ª semana: mais um ensaio pessoal, só para assinantes pagos, porque vocês merecem.
Portanto se você quer esse conteúdo extra, se você não pode viver sem me ler falando sobre a Nicole Kidman bebendo leite num pires, vai em frente e faça um upgrade, patrocine sua escritora local
Ah, mas e os vídeos? Vou seguir fazendo! Eu estava me divertindo, editar exercita habilidades que eu não usava desde a faculdade de cinema (ou o finado e maravilho Clube do Livro Erótico, quem sabe sabe) e agora que trabalho de casa preciso de um escape para a tagarela que sou. Mas vou lançar tudo direto lá no YouTube, não sei se vou ser consistente, tenho zero ambições de virar qualquer coisa famosa além de escritora, mas eu gosto de falar, eu gosto de editar vídeos e então é isso, sigam lá.
E por fim, nessa limpeza de casa: eu agora estou trabalhando apenas como freela de texto e eu traduzo literatura, traduzo artigo acadêmico, faço preparação, reviso todo tipo de coisa, faço leitura crítica de originais e de textos acadêmicos. Se você é um editor e quer me dar uma chance, se é um mestrando desesperado, se é um escritor aspirante que quer uma olhada no seu texto, manda um email, me contrate, eu sou ótima.
E agora vamos ao que interessa:
Em nenhuma ordem de preferência, minhas melhores leituras de 2024
Uma lista, com breve explicação, das minhas 10 melhores leituras do ano passado! Sendo honesta, eu não comecei pensando em 10, eu ia fazer um negócio bem minha newsletter minhas regras, mas aí a lista final ficou com 11 e bom, eu sou virginiana. Então é isso, top 10, bem clássico, bem clichê:
1- À Sombra das Moças em Flor, Marcel Proust - parece meio ridículo eu vir justificar por que Proust é uma das minhas melhores leituras do ano, então eu não vou. É só a coisa mais bonita que você vai ler na vida e agora eu sofro todo dai porque a Companhia das Letras ainda não lançou mais nenhum volume da tradução nova (e sim, eu poderia ler em francês, não venham me lembrar disso)
2- O Espião Que Veio do Frio, John LeCarré - Eu já mencionei aqui o quanto amo uma história de espião? Eu AMO uma história de espião e acho que é uma plataforma excelente para pensar várias coisas. No caso o LeCarré pensa a Guerra Fria (óbvio), mas também a natureza da desconfiança e dos jogos de poder.
3- Birnam Wood, Eleanor Catton - Eu acho que dei 4 estrelas pra esse no Goodreads porque o final é meio bagunçado. Mas a Eleanor Catton escreve TÃO bem e esse livro consegue abordar questões políticas do momento (ecologia, techbros) de um jeito que soa como preocupação genuína e não “quero cumprir tabela". Além disso tem o retrato mais preciso de um esquerdomacho que eu já li na vida.
4 - Anatomia de um Julgamento, Janet Malcolm - É o relato de um julgamento de uma mulher acusada de mandar matar o marido, mas narrado sem uma ilusão de objetividade e com a Janet Malcolm (que escreveu uma biografia da Sylvia Plath, então ela sabe algumas coisas sobre isso) refletindo o tempo todo sobre como as normas e expectativas culturais distorcem nossas percepções das mulheres.
5 - Encruzilhadas, Jonathan Franzen - Eu sei, eu sei, o Franzen é meio insuportável e o auge do escritor homem branco hétero que faz metáforas péssimas sobre sexo. Eu sei. Mas. Quando eu peguei esse livro, minha primeira sensação foi “ah sim, é assim que é ler um livro BOM". Justo, eu vinha lendo muita coisa mais ou menos, mas putz, a construção de personagens, a ambientação, essa mania de escrever um romance contemporâneo como se fosse o século 19 e o que isso diz. Me pega. Amei.
6- Laços, Domenico Starnone - POV: Nino Sarratore. Risos. Mas não também. É um livrinho curto, mas ele fala tanta coisa sobre o desejo, sobre o enlouquecimento da paixão e sobre a não-linearidade das coisas que a gente quer da nossa vida. É um bom ponto de partida para pensar também como muito do que a gente chama de “lixo” em homens é só uma autorização interna de seguir o próprio desejo.
7 - O Leopardo, Giuseppe Tomasi di Lampedusa - Eu não sou uma pessoa de escrita poética, mas eu sou uma pessoa de escrita sensorial. Quando eu tava nas primeiras páginas desse livro eu já estava convencida porque você SENTE o sol da Sicília, aquele cheiro meio doce, meio podre de pomar muito carregado, a areia, os sons. Eu acho que é preciso essa materialidade da coisa para se falar de decadência, mas no fim eu não tava nem aí para trama, eu só queria continuar lendo sobre uma ilha em que faz muito calor (a fã de Marguerite Duras em mim)
8 - Intermezzo, Sally Rooney - Não é meu favorito dela (segue sendo Pessoas Normais), mas eu acho que é o melhor em termos objetivos, talvez. Pelo menos é o mais elaborado. Formalmente é muito interessante e ela faz várias vezes algo que eu amo e que em Anna Karenina eu chamava de “escolinha de política do Lievin": quando dentro da narrativa os personagens tem a chance de explorar e elaborar suas visões filosóficas. É, como sempre com a Sally Rooney, uma investigação do que é viver agora, das muitas formas de viver e se dá pra inventar algo de novo.
9 - Na Casa dos Sonhos, Carmen Maria Machado - Esse livro!!! Talvez se eu precisasse escolher minha melhor leitura do ano seria ele. Calhou de eu ler perto de ter tido conversas sobre por que eu gosto tanto de ler contemporâneos, mesmo que isso signifique ter que lidar com uma quantidade maior de coisas medíocres que se eu lesse mais clássicos (testados pelo tempo, etc) e esse livro é a explicação. Eu quero ler contemporâneos porque eu quero ler gente digerindo as formas artísticas de agora e transformando em literatura. Porque eu quero ler sobre ser mulher e ser bissexual em um mundo que isso me dá plena agência de Narradora. Porque nossa, a Carmen Maria Machado é um gênio. Fiz todo mundo ler esse, não cansei de falar até agora, fico impressionada de novo toda vez que eu lembro.
10 - A Mulher Desiludida, Simone de Beauvoir - Eu não lia a Simone de Beauvoir há muito tempo, apesar de ela ser (lógico) uma das minhas maiores referências. Peguei esse porque tinha uma edição encostada aqui, era mais curto que Os Mandarins e tá meio na moda. E nossa, eu tinha esquecido da prosa dela. E também da clareza em construir personagens femininas realistas, ao mesmo tempo formadas pelo sistema, mas não vítimas e da capacidade dela de diagnosticar sem julgar. Pra esse ano, acho que mais Beauvoir.
Menções honrosas: Nona Casa e Para o Inferno, da Leigh Bardugo. Eles não entraram na lista oficial porque eu sei que não são Bons de verdade. Mas todo mundo precisa de um entretenimento e esse aqui foi 12/10
O Espelho e a Luz, da Hillary Mantel. Eu dei cinco estrelas pro livro, mas tirei da lista oficial porque me parece injusto avaliar ele sozinho, quando ele só faz sentido como conclusão da trilogia que eu venho lendo há anos. De qualquer forma, ela é uma bruxa, essa série é maravilhosa, eu amo o Oliver Cromwell, encarem sim.
E é isso, semana que vem a gente volta com texto de verdade, plmdds não me mandem email perguntando o que aconteceu, é isso, bem vindo a todo mundo (muita gente!!!!) de novo por aqui, nas próximas eu vou voltar a incluir uns comentários rápidos e links no final da newsletter.
Saudoso clube do livro erótico. Quero ler esse texto sobre porque ler contemporâneos aí. Feliz ano novo!