Muito cedo para mim, foi tarde demais
Um pequeno ensaio sobre "O Amante", da Marguerite Duras
Does it matter that she was sexy? In a sense, yes, because it allowed her to feed her insatiable need, so her biographers report, for erotic attention, and to understand her way around desire, which is to say, around writing.
Rachel Kushner, no ensaio “Duras with an S”
Quando eu tinha 15 anos, eu estava com a minha mãe em Paris (eu sei, seu sei), examinando Balzacs e Dumas em uma livraria, quando ela me veio com dois livros e disse “você deveria ler esses". Um era Memórias de Uma Moça Bem-Comportada, o primeiro volume das memórias da Simone de Beauvoir, o segundo era O Amante.
Minha mãe é uma figura curiosa. Ela não foi uma boa mãe em nenhum sentido que você espera do termo, mas ela foi sempre glamourosa e me apontou - talvez não da forma mais apropriada - na direção de coisas que me formaram muito profundamente. Cinema iraniano, existencialismo, Perto do Coração Selvagem, O Amante. Ela me contou que o livro era sobre uma menina adolescente apaixonada, o que é a descrição mais inexata possível, e me comprou de presente uma cópia linda da Éditions de Minuit, com aquela capa minimalista creme e um debrum azul brilhante. Anos depois, eu emprestei essa edição para um homem que desapareceu com ela e meus dois primeiros livros tiveram capas imitando essas edições clássicas francesas, uma ideia do meu editor que me toca até hoje.
Enfim, eu guardei esse livro e levei de volta e passei os dias finais dessas férias, entre chegar de Paris e voltar às aulas, lendo Marguerite Duras e fumando escondido.