Noites no Novo México
Quando comecei a ler Noite no Paraíso, segunda coletânea de contos da Lucia Berlin a sair aqui, eu fiquei muito surpresa ao ver que o primeiro conto tinha uma protagonista criança. Depois de ter lido Manual da Faxineira eu identificava os temas de Berlin como o vício, a relação entre vício e desejo, e aquele tédio peculiar das mulheres para quem o pleno potencial intelectual não foi permitido e acabou se condensando em uma inquietude do corpo. Nenhum desses temas que me pareceriam caber num relato de infância. Mas as crianças de Berlin são, como tudo nela, subvertidas e subversivas, incômodas e mais simbólicas do que reais.
Claro, há uma incoerência aqui: embora ela até acesse alguma infância, essa é a dos 11, 12 anos, não a dos 7 que as protagonistas supostamente têm. Mas a incoerência é em si um tema de Berlin, ela vai contando histórias que se contradizem, jogando fatos que no fundo não importam, a história é sempre sobre outra coisa e essa outra coisa é ela mesma.
Em uma resenha dessa nova coletânea de contos, a Nadja Spiegelman disse da Lucia Berlin:
In death, she became the patron saint of every coastal cool girl, every exhausted mother, every daydreamer of plane tickets, every chaser of her next broken heart.