Uma mulher que olha para homens que olha para mulheres
Sobre Herzog, Ornament and Silence e ser vista
Anos atrás (anos suficiente que o objeto dessa newsletter agora é casado, pai de família, mora em outro país e não vai ler isso), eu tive um relacionamento com um homem que hoje os jovens chamariam de situationship, mas na época eu não chamava de nada. Foi uma daquelas histórias irônicas, e sofridas porque irônicas, em que eu comecei a sair com esse cara porque não tinha nada melhor pra fazer mesmo e aos poucos ele foi me convencendo de que eu deveria gostar dele. Quando isso aconteceu, ele terminou comigo. Lógico.
Mas antes dele terminar comigo e eu ficar destruída, quando a gente ainda estava naquela fase em que aos poucos você descortina a personalidade do outro e vai tateando em busca de coisas para gostar, uma das coisas que eu encontrei foi que ele era fã de Philip Roth. Muito fã. Fã tipo comprou uma primeira edição autografada por muitos dinheiros (ele trabalhava no mercado financeiro) e eu que ainda era uma pobre mestranda fiquei encantada.
Eu gostaria de apostar que a quantidade de leitoras sacudindo a cabeça nesse momento está entre 20 e 30. Mas a questão com o que a internet gosta de chamar de red flags é que uma coisa só é um problema se ela não é seu problema também. Que é lógico que o quanto um homem é fã de Philip Roth só é um alerta se eu não fosse igualmente fã. Que ele se identificar com os personagens e com a ideia de masculinidade construída ali só seria um defeito se eu não me sentisse atraída e fascinada por aquilo. Se eu não fosse o tipo de mulher que com certeza teria um caso com o próprio Philip Roth.