Em 2019, quando a Patti Smith veio ao Brasil, eu estava me sentindo perdida criativamente. Eu sou mais inquieta do que disciplinada e às vezes isso me deixa sentada com uma bola de energia e impulso que eu não sei para onde vai. Naqueles meses, eu estava rabiscando inícios de contos em cadernos que abandonava e dizendo “vamos fazer um zine!” para as minhas amigas no bar. Mas nenhuma dessas coisas era feita e também nenhuma delas me parecia a resposta.
Então, em uma manhã de semana eu acordei cedo e, muitas horas antes do evento, me sentei em uma fila enorme no ginásio do Sesc Pompeia na esperança de conseguir um lugar para ver a Patti Smith falar. Eu tinha ingresso pro show no fim de semana, mas eu estava menos interessada na música do que na escritora e ali, naquela palestra, ela falaria de escrita e criatividade e sei lá, só de ser a Patti Smith. Eu disse, de brincadeira, mas também não, que esperava que ela me salvasse.
Naquele dia ela falou da eleição do Trump, de viajar pelo mundo e, claro, do Rimbaud. De comprar a casa do Rimbaud e da paixão pura que ela tem por esse poetinha adolescente. Eu não sei se ela me salvou, mas tinha algo ali, nessa ideia da vida criativa como uma vida que você vive e não projetos que você termina que eu penso até hoje.