Eu quero começar essa lista de coisas que eu li, vi e ouvi em setembro dizendo que eu estou seis livros atrasada na minha meta do Goodreads e isso aconteceu só esse mês. Vai ter muita Annie Ernaux na causa quando chegar o fim do ano, mas agora o que isso significa é que eu li pouquíssima coisa e parte do que eu li eu não posso comentar porque sou uma escritora importante cheia de projetos (risos). Por outro lado, eu assisti muita coisa, então tem isso pra vocês. Bora para o que eu fiz em setembro (a real é que eu saí, eu saí horrores, a vida social alimenta os ensaios dessa newsletter, mas atrasa minha lista de leitura)
O que eu li: Eu reli Conversa Entre Amigos, da Sally Rooney e pensei várias coisas a respeito dessa releitura, tanto que escrevi um pouco sobre isso para os assinantes pagos aqui:
Depois eu li Filho de Jesus do Denis Johnson e fiquei encantada, fascinada, nem sei dizer. Me lembrou muito Loira Suicida, um livro no qual eu penso quase todos os dias desde que li e pretendo ler logo mais coisas do Denis Johnson.
Então, um dos grandes culpados pelo atraso da meta entrou na minha vida que foi a Obra Completa em Colaboração do Jorge Luis Borges com o Bioy Casares. Eu sou louca pelo Borges de um jeito que é meio paralisante, um pouco o que o Philip Roth tinha com o Kafka, uma coisa “como é que eu posso escrever se alguém já escreveu isso?”. Esse livro ainda me causa essa sensação, mas ele também tem um ar muito claro de jogo entre amigos, experimentação, dois grandes escritores brincando de literatura. Achei engraçadíssimo, achei estranho, achei uma delícia. Tem 544 páginas e precisei ler um pouco a toque de caixa porque resenhei para O Globo e no fim senti minha capacidade de leitura meio esgotada, então agora to aqui me arrastando no Winter da Ali Smith. Mas independente, foi toda uma experiência e se vocês quiserem ler, minha crítica tá aqui.
O que eu vi: Como eu disse, eu li pouco, mas assisti bastante, então vamos começar pelos filmes.
No início do mês eu revi Blow Up, do Antonioni, que eu não assistia desde a faculdade. Ainda acho uma obra-prima, a forma como ele pega todas as ideias da nouvelle vague de um cinema intelectual que chame atenção para sua forma e joga numa roupagem que parece pop, mas serve como análise do momento estético. Logo depois de eu rever, a Mostra anunciou uma retrospectiva do Antonioni e estou ansiosa horrores. Dá para alugar o filme no Apple+ ou Prime Video.
No dia do meu aniversário eu fui presenteada pela cidade de São Paulo com uma sessão de Suspiria no Belas Artes e fui. É absolutamente outro filme no cinema. As cores! O uso do som!!!!! Eu amo terror, acho esse uma obra prima do gênero e ainda funciona como alegoria de silenciamento, paranoia e todas as coisas que todo mundo queria dizer colocando filme de terror pra se passar na Alemanha nos anos 1970. Vi no cinema, mas tá no Prime Video. Daí, ainda na vibe terror, fui ver o novo da A24, Fale Comigo e achei eficiente, bem O Chamado pra Geração Z, segue em cartaz.
Depois assisti Você Não Tá Convidada pro meu Bat-Mitzva porque se eu não fizesse isso logo minhas alunas iam me renegar. Achei uma delicinha, divertido, fofo, amei como ele usa a estrutura de comédia romântica para falar de amizade e de crescer (tá na Netflix, mas isso todo mundo sabe). E porque eu estava judaica, na noite de Rosh Hashaná eu reassisti Annie Hall, ainda um dos meus filmes preferidos e a experimentação com as formas de narrar é genial (tá no Prime Video). Escrevi um pouco sobre os dois aqui:
Então numa sexta à noite, como é absolutamente normal, decidi ver um filme de 1954 e assisti Sindicato dos Ladrões. É uma obra prima e a vulnerabilidade do Marlon Brando é em si um ensaio sobre masculinidade. Também descobri que talvez um delator do McCarthismo fazer um filme sobre como as vezes o ato corajoso é delatar talvez seja meu limite no separar autor da obra, mas enfim né. Dá pra alugar nos streamings de alugar.
Daí fui ao cinema ver Estranha Forma de Vida, o curta novo do Almodóvar, um cineasta por quem eu tenho sentimentos ambivalentes e há muito tempos não fazia nada que eu gostava. Gostei desse, achei brega do jeito certo, amei como ele retrabalha os clichês do western, vivi para Ethan Hawke e Pedro Pascal caubóis gays, só queria que fosse um longa. Tá no cinema, mas entra no Mubi logo mais. Então, numa nova sexta à noite em que fiz escolhas duvidosas, assisti Mary Shelley, a biopic com a Elle Fanning. O filme em si, por ele mesmo, não é ruim. Ele é envolvente, eu fui entretida e o Tom Sturridge faz o Lord Byron o que foi uns 90% de por que eu escolhi assistir esse filme. Mas ele é moralista e medroso demais para as pessoas que tá retratando, além de provavelmente ter recebido um briefing de que a censura tinha que ser 14 anos. Ninguém usa um ópio, Frankenstein parece ser só sobre as dores pessoais da Mary Shelley e ele decide que amor livre só existe enquanto desculpa de homem cafajeste e nenhuma mulher inteligente poderia ter esse impulso. Tá na Netflix.
Por fim, nessa última semana assisti After Hours, do Scorcese e amei. Achei um Scorcese engraçado e meio lyncheano, que de um jeito surreal satiriza parte do discurso a respeito de Nova York nos anos 1980, tá pra alugar nos streamings de alugar todos. E porque meu namorado é um millenial que a deusa sabe como perdeu esse momento formativo para todos nós, eu fiz ele ver Scott Pilgrim Contra o Mundo e que filme mais legal, que saudades de 2010 e do Chris Evans figurante. Também pra alugar.
E porque eu não li nada, eu ainda vi séries. Comecei por Great Expectations, uma adaptação da BBC para o livro do Dickens, que é inclusive meu favorito dele. Amei demais, vai ser uma das minhas séries do ano, achei que eles navegam super bem a linha entre ser fiel ao espírito do livro e modernizar a história. No Star+.
Depois assisti a segunda temporada de Only Murders in the Building, que segue sendo uma delicinha e melhor do que precisava ser, também no Star+. E por fim assisti Winning Time, uma série que eu nem sei como me fez ficar super investida numa história sobre basquete nos anos 80. Achei a primeira temporada excelente, essa bem menos boa, mas ainda assim eu estava pronta para assistir mais umas três. Daí a HBO cancelou do nada, fiquei desolada, achei o final uma merda, mas assim é a vida. Na HBOMax.
O que eu ouvi: O novo da Olivia Rodrigo, é isso, foi isso que eu ouvi. Peço perdão a quem não tem espírito de adolescente, mas putz, que disco bom.
É isso, torçam pela minha meta de leitura. Espero que eu ter resgatado Scott Pilgrim da poeira da história anime todos nós pra esse showzinho do Metric no Cine Joia como se fosse bem 2010 que o Primavera Sounds arrumou.
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se a meta da leitura tá atrasada por ver filmes, ela é perdoada!! tá nas regras.