Da Janela Especial: Melhores leituras do primeiro semestre
Uma newsletter pra vocês lerem o que eu já escrevi, porque essa semana não deu
Amores, essa semana essa tradutora/escritora/365 party girl de vocês descobriu que não pode fazer todas as coisas ao mesmo tempo e na esteira de uma amidalite/breakdown/entrega de trabalho do inferno, eu dei uma espanada, então não tem texto. Pra não deixar vocês sem nada e porque estamos exatamente no meio do ano, uma edição especial com uma lista das minhas melhores leituras até agora e outra com as edições dessa newsletter que eu acho que merecem um amor de quem chegou só agora.
Semana que vem eu prometo que volto com meus neurônios capazes, novamente alfabetizada em diversos idiomas e com umas ideias sobre A Parede e Twin Peaks
Até agora nesse ano eu li a quantidade absurda de 39 livros (eu sei, eu sei, ninguém está surpreso que eu pirei), seguem os dez melhores em ordem cronológica de leitura, não de preferência:
Carrie, A Estranha, Stephen King - Eu nunca tinha lido Stephen King e esse livro é absurdo??? A forma como ele usa diversos recursos pra reconstituir a história, o jeito que esse homem hetero entra na interioridade de uma adolescente, o simples PAVOR da sequência final. Tudo. Não escrevi sobre o livro, mas falei do filme nesse texto aqui:
A Educação Sentimental, Gustave Flaubert - Madame Bovary é um dos livros da minha vida e eu estava há anos circulando esse. Por motivos, em janeiro chegou a hora dele e eu passei raiva, xinguei, fiquei encantada, achei que homossexualidade resolveria todos os problemas de todo mundo, tive aquela sensação transcendente de quando um livro é Muito Bom. Tenho pensado nele até hoje e escrevi umas coisas sobre ser mulher e o romance de formação aqui:
Ornament and Silence: Essays on Women's Life, Kennedy Fraser - Sabe quando você lê ensaios e fica só hipnotizada com como o cérebro daquela pessoa funciona? Esse livro foi isso para mim. A Kennedy Fraser é uma ex staff writer da New Yorker que costumava escrever sobre moda e comportamento na revista e nesse livro ela escreve perfis de mulheres artistas ou que orbitaram a vida de artistas para pensar o como nossa marca na história é impermanente. Me deprimiu, me fez escrever como nunca. Falei dele aqui:
Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, Alice Munro - Eu sei, a obra da Alice Munro virou toda uma coisa depois que a gente descobriu que ela foi monstruosa com a filha. Eu li esse livro bem a luz dessa contradição e achei, que ao contrário de invalidar a obra dela, saber de tudo isso torna como ela escreve sobre a subjetividade de mulheres ainda mais poderoso. Nós somos, tão violentamente o que o mundo faz de nós. E isso não deveria isentar ninguém moralmente, mas eu não sei o quanto a libertação é possível.
Fora isso, eu nunca li contos tão perfeitos.
Os Óculos de Ouro, Giorgio Bassani - É um livro curtinho, que eu li por motivos de pesquisa, sobre um homem gay na Itália fascista. Eu amei a sutileza e o terror de tudo e a elegância com que ele paralela judaísmo e identidade queer.
Minor Characters: A Beat Memoir, Joyce Johnson - São as memórias da namorada do Kerouac no momento em que ele publicou On the Road, mas é mais que isso. É a história de uma garota que queria ser o Kerouac, mas sem essa possibilidade, aceitou a segunda melhor opção. Me encantou tudo que ela fala sobre escrita, sobre ser feita e vista por homens, e as possibilidades de imaginar nossa própria vida. Além de que é só uma delícia ler fofoca sobre o Allen Ginsberg. Escrevi sobre ele aqui:
Como Ser as Duas Coisas, Ali Smith - Eu nunca li nada da Ali Smith que não gostei, mas esse talvez seja meu favorito. São duas histórias interligadas, sobre luto, arte, transcendência e ser uma mulher, radicalmente diferentes em linguagem e abordagem, mas vê-las se costurando é fascinante. Eu não escrevi sobre ele e nem acho que consigo explicar muito melhor por que esse livro é tão bom, mas ele é.
Poemas 2006-2014, Louise Glück - Não tinha um livro de poesia nas minhas listas de melhores do ano provavelmente desde que a Todavia relançou o Rimbaud, mas aqui estamos. Li sem esperar nada (mentira né, a mulher ganhou o Nobel), mas fui muito envolvida pela construção de narrativa ali, pela corporalidade do poema e a maneira como ela evoca imagens da antiguidade para falar do banal. Não falei do livro em si, mas um poema acabou dando esse texto:
A Origem do Mundo, Liv Strömquist - Eu sei que estou atrasadíssima nesse bonde, mas a Liv Strömquist é um gênio? Esse livro é um quadrinho e ao mesmo tempo uma história super bem pesquisada do imaginário e do lugar cultural da vagina. Ela é tão política quanto despretensiosa e o quanto esse livro é engraçado é justamente o que torna ele radical.
Horas Azuis, Bruna Dantas Lobato - É um romance curto, em que nada acontece exceto uma garota que foi morar fora falar com a mãe no Skype, mas esse é justamente o mérito dele, a delicadeza para falar de coisas que são muito profundas, muito difíceis e pouquíssimo concretas. Foi assunto da newsletter da semana passada:
Menções honrosas: Alguns notáveis porque é ridículo vir aqui e dizer que nossa, James Baldwin foi uma das minhas melhores leituras do ano (e sim, eu sei que eu citei o Fluabert): Herzog, do Saul Bellow; Lolita, do Nabokov e Terra Estranha, do Baldwin.
E para além dos textos que eu já linkei em cima: cinco newslettinhas as quais eu fiquei muito apegada e acho que vocês deveriam dar amor:
Muito cedo para mim foi tarde demais: em que eu falo da minha relação com O Amante, da Marguerite Duras
Queria tornar-me alguém: um texto sobre a loucura que é querer demais
Fantasia Polonesa: era uma resenha de A Verdadeira Dor, virou sobre a Europa e a minha família.
A Valsa: sobre meus vinte anos de ballet
Nada Daquele Tempo Existe Mais: um passeio pelo cinema do Wong Kar Wai
É isso, boas leituras, eu prometo que semana que vem volto em plena posse das minhas faculdades mentais
Do Stephen King, gosto bastante de "The Dead Zone" e "The Dark Half". Quando ele acerta, ele acerta.